Sondas põem meta do pré-sal em xeque
Pressionada a elevar sua produção de petróleo, a Petrobras corre contra o tempo para garantir a estrutura necessária ao seu plano de multiplicar por dez a produção do pré-sal até 2020. Mas atrasos na contratação de equipamentos, como sondas de perfuração e embarcações de modelos diversos, ameaçam comprometer as metas da companhia, já reduzidas em 2012, após oito anos sendo descumpridas.O risco concreto de entrega de equipamentos com atraso em relação ao prazo contratual irrita a presidente da Petrobrás, Graça Foster, que externou publicamente sua preocupação e fez um alerta aos responsáveis pelo cumprimento dos prazos.
"O pessoal que trabalha comigo sabe que odeio atraso, nem penso em atraso", disse ela no último dia 29 em palestra a estudantes e professores de unidades de ensino tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Nove meses após comunicar o acordo com a gestora Ocean Rig para a construção de cinco sondas, os contratos ainda não foram anunciados pela Petrobrás. Ao todo, a companhia encomendou 33 sondas no Brasil, das quais 28 à gestora Sete Brasil. Os entendimentos que levaram à assinatura do contrato com a Sete Brasil, que tem a petroleira na composição societária, demoraram tanto que a construção dos equipamentos também atrasou.
A Petrobras contrata gestoras como a Ocean Rig e a Sete Brasil, que escolhem estaleiros para a construção das sondas. Preocupada com a série de atrasos a partir da gestão de seu antecessor, José Sergio Gabrielli, Graça, no cargo desde fevereiro, decidiu só autorizar os contratos entre gestores e estaleiros caso seja convencida da capacidade do fabricante de entregar o produto dentro do prazo.
A demora nos contratos para as 33 sondas representa um tempo precioso perdido, já que cada uma leva 48 meses para ficar pronta. A primeira sonda tem de ser entregue em 32 meses, prazo que expira em junho de 2015, e a última, em 2020.
Meta de produção
Graça quantificou o que a Petrobras precisa receber em equipamentos (50 sondas e 49 navios) até 2020 para conseguir alcançar a meta de mais que dobrar a atual produção de petróleo (dos atuais 2 milhões de barris diários para 4,2 milhões em 2020). Hoje, o pré-sal produz 205 mil barris/dia. Em 2020, conforme os planos da empresa, serão 2,1 milhões, o que equivalerá a 50% da produção total brasileira.
"O fato é que isso é uma loucura total. Ninguém pode dormir quando se tem de construir tanta coisa. E é fato consumado, porque sem isso você não produz petróleo. (...) Se não entrar (petróleo), eu não consigo atender à curva de produção", disse a executiva.
Os atrasos não são apenas da indústria naval, de acordo com ela. Na fala aos universitários e mestres, ela evidenciou que já conta com os atrasos, apesar de repudiá-los.
"Para a produção dos 4,2 milhões de barris de óleo em 2020 precisamos ter no Brasil 50 novas sondas de perfuração entre 2012 e 2020. (...) As contratadas no exterior, todas atrasaram. (...)Foram feitas na China, na Coreia porque não havia condição de preparar os estaleiros para que fossem feitas aqui. O fato é o seguinte: para atrasar lá fora, que atrase aqui. Porque lá fora somos mais um e aqui nós somos a Petrobrás. Então, aqui está gerando emprego, gerando renda, gerando aprendizado", disse.
Cada sonda, uma espécie de navio com tecnologia de ponta para extrair óleo das profundezas do pré-sal, custa cerca de US$ 800 milhões. Serão as primeiras fabricadas no Brasil. Graça quer saber exatamente onde serão feitas, por quem e como, para evitar a repetição dos atrasos que levaram a companhia a descumprir as metas de produção no passado.
"Nós acompanhamos sistematicamente, religiosamente. Eu acompanho todos os meses mais de 400 projetos. Vira uma guerra atrasar projeto para a Petrobrás. Não pode atrasar."
Até agora, só uma sonda começou a ser construída no Brasil, com o corte de chapa (primeira tarefa da fabricação) iniciado em junho no estaleiro Keppel Fels (RJ). Um sinal do atraso é o fato de o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), apesar de estar com o trâmite interno adiantado, só prever o início da liberação dos recursos no fim do primeiro semestre de 2013.
Em tese, ainda há tempo útil para recuperar o cronograma. Pelo menos um estaleiro envolvido na disputa da Ocean Rig garante encurtar a construção da sonda para 36 meses. Mas os prazos ficam cada vez mais apertados.